24 setembro 2011

Tênis vermelho, pode?


Começo a escrever sem saber o que quero falar. Nesse ponto tudo já mudou. Se faz seis meses, um ano ou três semanas, não sei. Volto aqui como quem volta para um restaurante que traz boas lembranças. Como se eu deslumbrasse, sem rumo certo, um sentimento bom, como se eu quisesse puxar e  reviver a Maíra que um dia divagava por aqui, aquela que morava em lugar nenhum, que tinha todas as amarras desamarradas e portas escancaradas.

Não, a gente não se prende porque quer, a gente simplesmente se deixa ficar. Mil vezes eu cortei as raízes que, por descuido, tentavam se fincar, mil vezes cortei relações que queriam se esparramar, mil vezes eu me transformei em outra só para poder saltar, e saltar e nunca pensar em parar. Pensar em parar já é um sentimento que me incomoda muito, imaginar o mundo que acontece e não volta, enquanto eu estou aqui, construindo raízes, chega a me sufocar de verdade.

 A gente chega num ponto da vida, que os caminhos começam a não se cruzar mais. Fazer certas escolhas excluem muitas outras, para sempre. E eu não sei se sempre foi desse jeito, ou se isso está incomodando mais hoje,  mas perder todas as minhas outras possíveis partes chega a me desesperar insanamente.

Como assim, fazer dessa vida uma linha reta e sem graça? Como assim mergulhar em rotinas robóticas nas quais não se tem tempo para pensar, para olhar e observar ? Como assim? Em que ponto a gente se deixa levar? Em que ponto a gente se deixa estar? Em que ponto a gente se deixa gostar?  Eu não sei o ponto, mas o processo é sutil, delicado e silencioso, e as promessas são extremamente promissoras. Tem como fazer tudo isso sem fazer desse jeito?

Tem como não se moldar pelos moldes alheios? Tem como não seguir as "tendências"? Tem como não querer alisar o cabelo? Tem como usar os tênis vermelho? Tem como não querer casar, ter um casal de filhos, uma casa aconchegante e um emprego seguro? Tem como querer tudo isso e ainda sim ser toda você? Tem como não querer tudo isso e ainda sim ser feliz?

Tem como não se perder de você mesma?


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